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glossário

OCUPAÇÕES INFORMAIS

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Parcelamentos Irregulares no Distrito Federal. Mapa elaborado pelas autoras, a partir de dados da SEDUH.

No que concerne ao reconhecimento do direito à moradia, o destaque dado aqui refere-se, para além dos processos de legitimação das ocupações informais, à inserção, na agenda da política habitacional, da necessidade do planejamento e da delimitação de áreas voltadas à habitação de interesse social e atividades e serviços correlatos. No aspecto, Brasília possui uma considerável vantagem em relação às demais cidades: a existência de grandes áreas públicas bem localizadas.

HOLANDA, Frederico Rosa Borges de; PAULA, Raquel Furtado Martins de. Zonas especiais de interesse social nos vazios de Brasília. Oculum Ensaios, Campinas, v. 15, n. 2, p. 209-222, mai./ ago. 2018. [ p. 212 ]

Beatriz Helena

Camila Cerqueira

Maria Araújo

[   jan. 2022   ]

As ocupações informais são aquelas que ocorrem em oposição ao que definem as regulamentações de Planejamento Urbano, em resposta à maior demanda por moradia, devido ao crescimento populacional (BLANCO, 2008). Em Brasília há uma particularidade, quando comparada a outras cidades brasileiras, pois o termo “favela” não foi comumente utilizado para nomeá-las. No território brasiliense, as ocupações informais foram realizadas por famílias com diferentes perfis socioeconômicos, de baixa, média e alta renda, o que determina, ainda hoje, o perfil econômico das regiões onde se insere. Nota-se uma grande assimetria entre os assentamentos das populações empobrecidas, caracterizados pela precariedade de infraestrutura de saneamento e transporte, pelas altas densidades e por estarem em áreas de sensibilidade ambiental e zonas de risco (HOLANDA; PAULA, 2018) e os assentamentos de alta renda, onde há disponibilidade de recursos, materializados em qualidade urbanística e no atendimento por serviços públicos.

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O histórico dessas ocupações funde-se com o início da implantação de Brasília, quando houve a realocação dos trabalhadores para as ditas cidades-satélites, hoje denominadas Regiões Administrativas, após sua remoção dos acampamentos nas áreas centrais. Dentre esses, poucos permaneceram próximos ao Plano Piloto, como são os casos de Paranoá e Candangolândia.

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A partir de Mendonça (2012) e Jatobá (2016) podem ser esboçadas quatro principais fases de ocupações:

  • 1950 a 1970: caracteriza-se pela prioridade na consolidação de Brasília, pela remoção e realocação das ocupações de trabalhadores e consolidação das primeiras cidades-satélites próximas às principais vias de acesso ao centro;

  • 1970 a 1990: marcado pela inserção de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1987, definida pelo intenso controle, planejamento e ordenamento territorial, explicitado pelo Plano Estruturador de 1977 e a controversa expansão da cidade informal e o surgimento dos “condomínios” informais de média e alta renda, em 1975;

  • 1990 a 2000: marcado pelo lançamento do Plano Diretor de 1992, que abriu a possibilidade de proprietários parcelarem o solo urbano de suas propriedades, bem como pela flexibilização de usos; intensificação da grilagem de terras como atividade lucrativa, através dos condomínios irregulares em áreas públicas;

  • 2000 à atualidade: período marcado pela emergência da Política Nacional de Habitação, em 2004, e pela Política Habitacional do Distrito Federal, em 2006, as quais culminam em programas habitacionais, como o Minha Casa Minha Vida, iniciado em 2009; considere-se, ainda, as atualizações no Plano Diretor (2009 e 2012) e a delimitação das áreas de regularização e de interesse social; manteve-se, no entanto, um alto déficit habitacional.

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Os principais problemas e contradições relacionados às ocupações informais em Brasília dizem respeito à visão das ocupações informais das populações mais pobres como menos desejáveis e reconhecidas como “invasões”, passíveis de serem removidas para áreas de menor valor imobiliário, ao passo que há maior delicadeza frente às ocupações de maior renda e seu imediato reconhecimento para consolidação (MENDONÇA, 2012). Com isso, vê-se a materialização das desigualdades no espaço urbano, resultando em uma configuração urbana onde a segregação socioespacial se faz presente (HOLANDA; PAULA, 2018). Ainda, como aponta Clarissa Freitas (2018), há um conflito entre os objetivos da proteção ambiental e o modelo de urbanização que promove a produção desigual do espaço urbano, favorecendo a apropriação pelas camadas mais abastadas e sendo mascarada pela mera visão enquanto “desordem urbana”.

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Freitas aponta que aqueles objetivos têm sido usados como instrumento de exclusão socioespacial, o que é demonstrado por seu estudo de ocupação da Área de Proteção Ambiental da bacia do São Bartolomeu, que demonstra que as áreas de menor sensibilidade ambiental são mais ociosas devido à retenção especulativa dessas áreas mais valorizadas, o que contrasta com as altas densidades e precarização presentes nas ocupações de menor renda, demonstrando a seletividade do discurso ambiental. À vista disso, percebe-se uma aliança entre as leis urbanísticas e as leis de mercado. Partindo desse quadro, ressaltam-se as contribuições de Holanda e Paula (2018) e Moura (2008) para as legislações urbanísticas enquanto resultantes dos processos de luta social.

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Um exemplo para as considerações acerca das ocupações informais de baixa renda contemporâneas é o da chácara Santa Luzia, inserida na Região Administrativa da Estrutural, que apresenta as precariedades apontadas e é um exemplo do conflito trazido por Freitas (2018), visto que abrange áreas de sensibilidade ambiental. Em resposta à ocupação, a proposta trazida pelo governo consiste na remoção dos assentamentos presentes e sua realocação em um edifício linear de quatro pavimentos ao longo dos limites da poligonal da Estrutural.

remissivos

referências

BLANCO, Karoline Cunha. As peculiaridades das ocupações irregulares no Distrito Federal. Paranoá: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Brasília, n. 21, 2018. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/paranoa/article/view/24050 | Acesso em: 17 dez. 2021.

BRITO, Jusselma Duarte de. De Plano Piloto a metrópole: a mancha urbana de Brasília. 2009. 346 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de Brasília, Brasília, 2009. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/3970?mode=full | Acesso em: 17 dez. 2021.

FREITAS, Clarissa F. Sampaio. Regulações territoriais e expansão urbana informal: é possível preservar e incluir?. Paranoá: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Brasília, n. 19, 2018. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/paranoa/article/view/11792 | Acesso em: 17 dez. 2021.

HOLANDA, Frederico Rosa Borges de; PAULA, Raquel Furtado Martins de. Zonas especiais de interesse social nos vazios de Brasília. Oculum Ensaios, Campinas, v. 15, n. 2, p. 209-222, mai./ ago. 2018. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/3517/351756239002/351756239002.pdf | Acesso em: 17 dez. 2021.

JATOBÁ, Sérgio Ulisses. Informalidade territorial e mercado de terras urbanas no Distrito Federal. Texto para discussão nº 18, jun. 2016. Brasília: Companhia de Planejamento do Distrito Federal, 2016. Disponível em: https://www.codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/TD_18_Informalidade_Territorial_Urbana-Mercado_Terras_Urbanas_DF_2016.pdf | Acesso em: 17 dez. 2021

MENDONÇA, Laila Mackenzie. A cidade informal em Brasília: 50 anos de expansão da irregularidade urbanística na cidade moderna. 2012. 199 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. Disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/295 | Acesso em: 17 dez. 2021.

MIRANDA, Julia Cristina Bueno; ANDRADE, Liza Maria Souza de. Análise comparativa segundo as dimensões da sustentabilidade entre a ocupação das chácaras Santa Luzia e a proposta para habitação social do governo. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, [S.l.], v. 14, n. 2, dez. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.17271/1980082714220181916 | Acesso em: 17 dez. 2021.

MOURA, Cristina Patriota de. As trajetórias da formalização: condomínios horizontais. In: 32° Encontro Anual da ANPOCS. Anais [...]. GT 01, 2008. Disponível em: https://www.anpocs.com/index.php/papers-32-encontro/gt-27/gt01-19/2254-cristinapatriota-as-trajetorias/file | Acesso em: 17 dez. 2021.

Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Departamento de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo

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